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Saramago para além de Saramago

Escrito em 10 de Agosto de 2023

Saramago, o tradutor de ficção

Antes de se dedicar totalmente à criação literária, Saramago trabalhou na editora Estúdios Côr, escreveu para jornais (coisa que continuou a fazer) e traduziu.

Apresento duas das mais célebres traduções do nobelizado. Estavam para ser quatro, mas o exemplar de “Ana Karenina”, de Tolstoi, e o de “A sibila”, de Par Lagerkvist, ambos dos Estúdios Côr, foram vendidos há dias. Saramago deve ter traduzido meia centena de obras, penso que sempre do francês, mesmo quando os autores eram russos ou suecos.

“Chéri” é o “romance emblemático” de “uma das mais fortes personalidades literárias francesas deste século” (o século XX, evidentemente) - lê-se na contracapa do livro republicado pela Contexto. Esta edição é de 1988. A edição original francesa é de 1920. A primeira edição em português foi em 1960, pelos Estúdios Côr. A editora Presença também o publicou, em 2009, sempre com a tradução de Saramago, que, diz o site da Wook, “restitui-nos todos cambiantes da escrita de Colette com magnífica pujança e nitidez”.

 

O tema do romance é, basicamente, o do amor entre uma senhora de meia idade e um adolescente mimado. É ele o “Chéri”.

Saramago, o tradutor de não-ficção

O livro de Georges Duby é um clássico da historiografia. Quer dizer, quase tudo o que Duby escreveu são “clássicos” da História feita no século XX. O livro fala da construção de catedrais, mosteiros e palácios na metade final da Idade Média, do ano1000 ao início do Renascimento.

Quem gosta de Feiras Medievais, que no verão acontecem por aí, deveria ler este livro. Esta obra, sim, é um bom retrato do que foi a Idade Média (ao contrário das Feiras Medievais. O Ocidente, por volta do ano mil, era “rústico”, “pobríssimo e desamparado” diante das ricas Bizâncio (ortodoxos) e Córdova (muçulmanos). “Mundo selvagem”, “mundo cercado pela fome”, a Europa onde se erguem mosteiros, catedrais e palácios (as três partes do livro).

“O tempo das Catedrais” fala de um povo que “luta com as mãos quase nuas contra uma natureza indócil, cujas leis as sujeitam, contra uma terra infecunda porque mal dominada”, mas que de repente se põe a contruir catedrais que chegam ao céu. Um livro admirável, que se pode ler abrindo à sorte. Aprende-se sempre. Não sei como é o original, mas Saramago deve ter um grande mérito na tradução desta obra. É um gosto enorme lê-la, quer pelo conteúdo (história medieval) , quer pela forma (escrita).

“O Tempo das Catedrais” foi publicado em Portugal em 1979. E em 1982, Saramago surgiu com “O memorial do Convento”. A ação decorre no século XVIII, com a construção do Convento de Mafra. A questão que se me põe é: será que a tradução de “O tempo das catedrais” influenciou a escrita de “O memorial do convento”? As técnicas não mudaram grande coisa dos séculos XII-XV para os séculos XVII-XVIII. O Portugal rural de 1700 não diferia muito da Europa rural de 1400. Acho que daria um bom estudo a comparação destas duas obras. Tanto quanto se sabe, não está feito.